sexta-feira, 12 de dezembro de 2008



João Carlos Celestino Gomes
Artista, pintor, poeta e médico ilhavense

"...creio que toda a obra de arte, como obra de beleza ou para o ser, tem que ser como quem faz uma boa acção e que afinal, nos faz, sem fadiga, felizes por sermos homens."
Celestino Gomes

Notas biográficas:

João Carlos Celestino Pereira Gomes nasceu em Ílhavo a 5 de Outubro de 1899, é um artista de reconhecidos méritos pela projecção da sua obra no espaço cultural e artístico português. Fez a instrução primária em Ílhavo e ainda antes do ingresso no liceu recebe aulas de francês de Monsenhor João Quaresma, ao mesmo tempo que é iniciado nas técnicas do desenho. Frequenta o liceu José Estevão, em Aveiro, onde, aos 12 anos, sugere a feitura de um jornal de turma, de que saem 3 números que manuscreve e ilustra. Aos 15 anos colabora no prestigiado jornal ilhavense O Nauta sob o pseudónimo de Carlos Doherty.
Com 16 anos, representa com os amigos do liceu, a sua peça In Hoc Signo, no Teatro da Vista Alegre. Em 1917 faz a sua primeira exposição no Clube dos Novos onde predominam os retratos. Durante os seus estudos preparatórios médicos, no Porto, funda a revista literária Humus. Frequenta os ateliers de grandes artistas da época, como Henrique Medina, retratista famoso. Na sua terra funda e dirige o jornal local Beira-Mar e é um dos co-fundadores da agremiação cultural Pléiade Ilhavense.
Celestino Gomes dedica-se à xilogravura, a pequenos gouaches e aguarelas e também a grandes óleos como Retrato da Mulher do Artista, A Promessa ou Auto-Retrato. Termina o curso de medicima em 1927 e apresenta uma tese subordinada ao tema A Fisionomia da Morte. Simultaneamente com a sua carreira de artista, Celestino Gomes exerce a sua carreira de médico. Em 1929 é médico municipal de Aldeia Galega, passando depois por Montijo, Santarém e Lisboa, onde se viria a fixar. Especialmente em Lisboa vai exercer uma acção notável na luta contra as doenças pulmonares, aliando o seu papel de artista ao de médico ilustrando diversas obras de educação sanitária.
Em 1935 vai a Paris à sua grande mostra na Casa de Portugal.1940 - é o ano da celebração dos Centenários, mas num mundo em guerra. Entre as suas actividades profissionais, João Carlos vai desenhando nanquins (S. João Baptista é desse ano) e preparando as ilustrações de obras de amigo: As Cantigas de Toy, de António Homem de Mello; Onde a Terra se Acaba e o Mar Começa, de Afonso Lopes Vieira que lhe confessaria “e por mais duma vez, que era essa a sua capa mais querida dando ao original um lugar perto de si (foi a única que mereceu tal distinção) na sua biblioteca”. As férias de verão passa-as a gozar na Torreira com o seu amigo António Madureira em cuja casa de praia executa (em 41) o lápis de grandes dimensões Varina que tem como modelo - a sua própria mulher.
De 1942 são catorze os nanquins dos Caminhos de Sangue. Aí confluem a sugestão do Padre Moreira das Neves, as Tradições da beira-ria natal (“Cinzas de Aveiro, Passos de Águeda - ou de Ovar -, Semana Santa de Ílhavo” dizem os provérbios), os rumores da grande tragédia dos homens ao tempo. Esses anos quarenta são de desenho para ilustrações: A Medicina na Literatura Portuguesa, Livro de Ester (43), Farsa dos Físicos, Epigramas Médicos de Bocage, Misericórdias Portuguesas (45), Momentos da Medicina (44-46). Retoma os nanquins laivados de gouache: A Bordadora (39), Banho de Sol (41), Severa (43), Noiva ao Espelho (47), O Drama do Jogo (48), Alegoria à Medicina, Camões Coroando Garcia da Orta (50). Escreve o seu último romance em 46: A estrada de Fogo. Agora, a obra escrita é de temática profissional: Artistas Conhecidos Médicos Ignorados, de 48, e Esta Vida são Dois Dias / Conselhos para a Poupar de 49. Médico conhecido, tem uma actividade contínua de divulgação higiénica na colaboração permanente (a partir de 49) no Diário de Notícias com a rubrica é Bom Poupar a Saúde e edições de livros do tema: O Homem quer Viver Mais (50), A Arte de Não Ser Doente, A Doença e os Doentes (56), História da Medicina e Maratona das Novidades, ambos de 1958, quando inicia a sua charla Haja Saúde na R.T.P.
Dobrada a meia centena, João Carlos recorda as suas viagens, os seus companheiros do Porto, as memórias dos heróis ilhavenses em jornadas de Borda da Água. Nos anos cinquenta vai murchando em João Carlos o interesse pelo pequeno formato. A grande dimensão volta a interessá-lo. Em 1951 fica pronta a Ceia, para o refeitório do Seminário dos Olivais. De 54 é o tríptico Dom Sebastião Autorga o “Privilégio” aos Fabricantes de Panos para a Federação Nacional dos Lanifícios.
De 55 é o gouache de dimensão invulgar, o auto-retrato meditado O Homenzinho. De 56, os óleos Outono e O Mar e a Terra. De 59, Flor de Plástico e Lisboa. Deste labor resultam em 57 três exposições: no S.N.I.; na Galeria Babel em Lisboa; e, no fim desse ano, no Coliseu do Porto. Em 1960 vai desenhando a nanquim D. João II, A Raposa Matreira, A Companheira, O Gladiador Vencido. A variedade da sua expressão plástica, levou os seus contemporâneos a apreciá-lo como "artista, artífice e criador", numa trilogia de coordenadas: sensibilidade, poder criador e técnica, que se transmitia na habilidade das suas mãos e no seu poder de fantasia, alguma coisa de prodigioso e de mágico.
A 11 de Novembro de 1960, na sua casa de Lisboa, morre João Carlos Celestino Gomes e é sepultado em Ilhavo, respeitando o seu voto "...se ainda houver nesta altura, a verba da Amizade no orçamento dos que ficarem, que me remetam, mesmo em pequena velocidade, para a minha terra, pois é nesse chãozinho dos meus maiores que gostaria de ficar..." . Ao concluir este trabalho, podemos dizer que João Carlos, desenhador e pintor, Celestino Gomes poeta e escritor, são duas facetas salientes no mesmo homem que muito contribuiu para o enriquecimento da cultura portuguesa. A cidade de Ílhavo encontrou a forma mais simples e autêntica de distinguir um dos seus mais ilustres naturais, atribuindo o seu nome à Escola Secundária, que passou a designar-se Escola Secundária Dr. João Carlos Celestino Gomes.
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Estas notas biográficas foram pesquisadas pelas alunas do 11º. ano: Andreia Silva, Ana Melo, Graça Martins, Inês Torrão, Inês Prina
Ex-Libris de Celestino Gomes, adoptado também como símbolo da Escola Secundária Dr. João Carlos Celestino Gomes

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