domingo, 14 de dezembro de 2008

Outro pintor ilhavense de renome

António CÂNDIDO PatoiloTELES nasceu em Ílhavo, a 1de Janeiro de 1921 e faleceu a31 de Outubro de 1999, deixandoa sua obra para a posteridade.
A recente doação, por parteda Família, de obras suas àCMI., é um gesto nobre que nospermite ter ao nosso alcanceum maior número de trabalhosseus do que aquele que existiano acervo do Museu Marítimo.Obrigada, pois, pelo acto generoso!Em vez de traçar a biografiaque vem nos Catálogos, quetão carinhosamente me ofereciae dedicava e que carinhosamenteguardo, preferi respigaruma sua entrevista fixadaem "Os trabalhos e os dias",em Outubro de 1988, altura emque foi agraciado com a Medalhade Mérito Cultural da CâmaraMunicipal de Ílhavo.
Daí transcrevi as frases que mepareceram mais eloquentes eelucidativas:(…) O meu contacto com aarte começou desde muitocedo com o meu avô maternoque era um ceramista e umbarrista de mérito (…). O meupai, Amadeu Simões Teles,nunca abandonou a pintura. Viomorrer com 84 anos ainda apintar. Foi outra grande influênciaque tive (…).Com os meus 18 anos, naCosta Nova, tive a felicidade deconhecer um pintor: FaustoSampaio. Era de Anadia e vinhapara a Costa Nova sobretudopintar (…).Comecei por o ver trabalhare, por último, trabalhar a seulado(…). Dava-me conselhossobre o enquadramento, composição,retoques…Ele era umnaturalista de ar livre e a minhapintura tornou-se isso, de início.Em 1939, C. T. fez a sua primeiraexposição no Salão ArraisAnçã, na Costa Nova, salão dediversão atrás do Café Coraçãoda Praia. Houve uma reacção deinteresse pela obra exposta.Depois, a vida profissionaldo Artista proporcionou-lheambientes distintos: Açores,Madeira, Angola, Alentejo, Algarve,Moçambique, entre outros.Em todos sofreu a influênciados meios.
Quem não conhece os verdese os negros das fases africanasde Cândido Teles e oslaranjas, ocres e vermelhos dafase alentejana, sem esquecero sucesso do chamadoAlentejo branco, o Alentejo deMonsaraz?Em 1962, na Madeira, foi importantepara C. T. o encontrocom Júlio Resende, amizadeque se prolongou durante asua estadia em Évora.
Foi um conselheiro e umgrande amigo, agora a somarao seu avô, ao seu pai e aFausto Sampaio.(…) Depois é o regresso aÍlhavo (em 1977) e a reintegraçãoque estou a fazer hámais de dez anos, empenhadoem ir buscar as coisas queestão a desaparecer: a arte daxávega, os temas da pesca naria, da faina do moliço queprocuro reviver…Agora dedico-me mais à figuração, fuibuscar as figuras, os barcosque ainda existem e evoquei osul da Costa Nova. Não volteia pintar ao natural. Adquiri umasérie de conceitos novos quedepois aplico aos temas quetratei no passado (...).Então, voltado para a ria ecoisas da ria, experimentou aescultura e empenhou-se afundo na cerâmica, de que éexemplo flagrante o painelcerâmico, de grandes dimensões,sito na Rua dos Galitos,em Aveiro, executado por encomendada C. M. de Aveiro,em meados dos anos 80.
Cândido Teles muito meincentivou a levar por diante aminha pesquisa sobre osMoliceiros, que ambos apreciávamos,com olhares diferentes.Em longas conversas deinverno, no conforto da lareirada sua saleta, o Artista, a Esposae eu, trocávamos e partilhávamosideias. Os motivosiam brotando e os esquissosganhavam contornos. Cadaum via e entendia o barco àsua maneira.Serões agradáveis esses,e quase sempre frutuosos!Os cadernos de apontamentosgráficos de CândidoTeles eram rigorosos e,enquanto os folheávamos, asconversas pareciam não terfim. Foram estes "bonecossimples", mas fiéis, que permitiramao Artista evocar epintar em 1994/5, cenas de1940/41. É o caso da típica Malhadade então, da Barquinha,de cenas lagunares commoliceiros, junto ao Palheiro,a caminho de Vagos.
Após o seu regresso definitivoa Ílhavo, passei a servisita assídua da casa, aindaantes de se situar ali, ao fundo,no Arenal.
Iniciei paulatinamente aaquisição de quadros, entre1975 e1985, começando poraquilo que considero as pequenasrelíquias dos anostrinta e quarenta, normalmente,de temas lagunaresou marítimos: moliceiros,companhas, o sul da CostaNova com as suas bateiras,palheiros, marinhas… Sempreescolhas em casa doArtista, bem pensadas, e coma sua opinião.Nas aquisições, mantivemefiel às ambiências lagunaresda nossa região. É delasque vos dou conta, naperspectiva de dar ainda maisa conhecer a obra deste saudosoAmigo.

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